”A tempera de uma alma é dimensionada na razão direta do teor de poesia que ela encerra” (Horácio Quiroga)

9 de fevereiro de 2011

Vaso-Barrica

Na velha varanda,
azulejada e clara,
certo dia foi colocado,
              sobre a mesinha baixa
de angelim pedra,
um grande vaso barrica
              com o pescoço curto e
              uma larga boca redonda.

Um vaso com flores, flores,
muitas flores; cheio de flores,
transbordante, colorido, perfumado.
Antúrios, lírios trombeta, dálias
              (rosas brancas, vermelhas),
jades, alfazemas e quaresmas.

Vinham verão, outono e inverno;
na primavera mudava-se a posição
              do jarro florido, na varanda.
Begônias, girassóis pequenos, cravos
              (amarelas, laranjas, brancos),
helicônias, jasmins e macelinhas.

 Por vezes o vaso rachava,
até se partia em cacos
              espalhados no chão,
mas logo era reposto,
com grande presteza,
por um outro vaso barrica
              com o pescoço curto e
              uma redonda boca larga.

Um vaso com flores, flores,
muitas flores; cheio de flores
transbordante, colorido, perfumado.
Hortências, alamandas, petúnias
              (azuis, amarelas, lilases),
hibiscos, margaridas e melissas.

Vinham, outono, inverno e primavera;
pelo ano novo mudava-se a posição
              do jarro florido na varanda.
Sempre-vivas, rosas e copos-de-leite
              (amarelas, vermelhas, brancos),
magnólias, gardênias e lilases.

Um dia, já esquecido,
com as flores apodrecidas,
o jarro partiu-se;
fatigado, fragmentou-se,
espalhando seus cacos limosos.
Mas então, já não havia na casa
quem, com ligeireza,
outro jarro repusesse.

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